terça-feira, 13 de maio de 2008

ENSAIO - globalização, medium e transparência - a existência Humana posta em Causa

Universidade Católica Portuguesa
Centro Regional do Porto
Escola das Artes
Mestrado em Artes Digitais





Ensaio
Globalização, Medium e Transparência
- a existência Humana posta em causa



Disciplina: Seminário Interdisciplinar
Comunicação, Novos Media e Mass Média
Docente: Hélder Dias
Discente: Joana Campos Silva



Porto
2008



Não consigo separar globalização dos Novos Media e do paradigma da mediação transparente. Tudo se completa, tudo se transforma, tudo indica um novo rumo. No ensaio anterior afirmei que os medias estavam perdidos no mundo, por isso a tendência para a remediação. Por outro lado, o paradigma da transparência faz-me pensar que o Homem está a perder-se enquanto indivíduo, pois tudo indica que daqui a uns anos, o homem não saberá se é Homem ou máquina. Julgo ser importante pensar na integridade do Homem e rever a problemática da globalização.
No estudo sobre a mediação, veio-me ao pensamento a existência do Second Life. Para que existe, se é a representação daquilo que já somos e daquilo que temos?, Será o fascínio pela ficção?, Para quê viver num mundo ficcionado se temos o real, de um modo palpável? Existirá a necessidade de ficcionar o real, de um modo idílico? Para quê fingir aquilo que não sou, através de um avatar? Será que me estou a transformar naquilo que julgo ainda não ser, ou será que já sou?
Ao longo dos últimos anos, vários estudos e algumas obras de artistas (ex: coelho fluorescente) têm provado que o corpo é o interface mais promissor dos próximos tempos. O real e o corpo passarão a ser um corpo virtual-real. Deixaremos de ter ratos, webcams, teclados, desktop, pois a superfície do corpo humano será a tela de projecção. O homem tornar-se-á num homem máquina? O corpo deixará de ser carne e osso, e passará a ser um código binário complexo?
Preocupa-me pensar que talvez daqui a uns anos, muitos deixarão de perceber o que são e quem são; e ainda, mais preocupada fico, pensar que o homem interessa-se em transformar-se a si próprio, colocando em causa a própria existência humana. Será uma questão de querer provar a si mesmo que consegue ir mais além? É uma questão de fascínio? Eu questiono: “Onde estão os limites do corpo e da própria existência Humana?“
Estamos numa época de constantes mutações, o computador (inteligência artificial) exterioriza muitas capacidades Humanas, por isso: Como é que conseguimos perceber quem somos?.
Os media são aparentemente transparentes, logo têm uma componente de ficção, o que faz com que nos afastemos, cada vez mais do real. Não se trata de uma máquina de escrever, estudada por Kittler que é pouco ou nada mediada, trata-se de um media que pretende simular a totalidade da linguagem humana. Por outro lado, as artes digitais como têm processos mais complexos, faz com que a transparência ainda seja mais mediada, embora a representação do real pareça ser fidedigna (TV, cinema...).
O professor Hélder Dias realça a ideia de Norbert Wiener que fala de um “Homem que pré-existe”, surgindo a dúvida, se é possível o homem ser colocado ao mesmo nível da máquina.
Outro elemento fundamental, tentando aprofundar até onde vai o limite do homem, é a ideia de linguagem. A linguagem enquanto escrita e por sua vez enquanto registo e história. De modo a permitir ao homem situar-se no seu tempo e conhecer-se a si próprio.
A linguagem volta-nos a levar para o paradigma da mediação. A mediação por sua vez leva-nos para a o corpo, o corpo para a linguagem e a linguagem para o real.
A linguagem computorizada, como funciona binariamente através de 0 e 1, permite modificar uma imagem a partir do som ou vice-versa. Por isso, a partir do momento em que apareceu esta nova linguagem, fala-se de médium, em vez de novos média. Isto porque os média (imagem, som, texto) resultam da mesma linguagem (0 e 1). Ora, isto faz com que seja necessário uma adaptação constante a todas estas novas linguagens (remediação) .
Segundo Larriza Thurler , devido ao “rápido surgimento de uma grande quantidade de inovações tecnológicas num curto espaço de tempo”, os media tradicionais tiveram de se adaptar às novas linguagens existentes. “Assim, a remediação auxilia na familiarização de uma nova mídia recorrendo às linguagens já conhecidas…” Thurler fala da reorganização das estruturas.
Uma imagem pode ser convertida em 0 e 1, bem como um texto num filme. O mundo está a tornar-se numa grelha binária, refeita matematicamente. Por isso, inicialmente falava do homem-máquina, o chamado “pós-humano” evidenciado por Kittler. Segundo o professor Hélder Dias, “Se a tecnologia toma lugar do pensamento na constituição real e corpo/humano, é porque existem dispositivos para a reconstrução… Entrada do Humano para a produtividade, variabilidade…” Os medias confundem-se entre si. Parece que a mediação são remediações. Os meios confundem-se em si mesmos, por isso se tornam num só. Por outro lado, existe um paradoxo, que é o facto dos medias determinarem a nossa situação e nós criarmos a situação dos media. Ou seja, existe uma ligação infinita entre estes dois pólos, porque se auto-alimentam, mas também se auto-destroem. Deixamos de perceber quem é quem. Julgo ser possível afirmar que media e homem é o mesmo, pois o homem faz os media, e os media fazem o homem. Muitos falam dos media como paisagem natural. Paisagem essa, da qual o homem é a personagem principal.
Julgo ser importante salientar, ainda com base na ideia inicial – Second Life, a perspéctiva de Jean Baudrillard que acredita que tudo o que existe no mundo é simulado. “...simular não é fingir”, pois “a simulação põe em causa a diferença do “verdadeiro” e “falso”, do “real” e do “Imaginário”.” Ora, simular para Baudrillard é assumir todas as características do objecto a ser simulado.
Ora o Second Life faz simulação do real. Pois o homem em primeira instância usa os media tecnológicos para se simular a si próprio, provavelmente para um melhor conhecimento de si mesmo, aprofundando os conhecimentos tecnológicos.
Vejo, aqui a simulação como um realce e recalcamento da ideia de existência. O homem continua a tentar superar-se a si mesmo, testando os seus limites ao máximo. Por outro lado, vejo um mundo medonho. Temendo que o homem construa a destruição do seu próprio ser. Julgo ser importante conhecermo-nos mais aprofundadamente, mas questiono até que ponto esse profundidade é necessária. Julgo estarmo-nos aproximar de uma catástrofe, uma vez que prevejo que o homem vai deixar de se conhecer, pois inevitavelmente os números habitam em nós, e muitos ainda não se aperceberam disso. Acho fascinante, mas também medonho a ideia de passarmos para o lado de lá. Gostaria que as gerações seguintes sejam orgânicas e não mecânicas! É necessário repensar os limites do homem e a existência Humana, julgando ser importante termos consciência destas problemáticas, tendo em conta a distinção do mundo real e virtual.

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